sábado, 5 de novembro de 2011

Porque me interessa a vossa religião

Se, num rasgo de genialidade bem intencionada, eu responder à pergunta porque é que a religião te interessa? com um simples porque me interessam as pessoas, não deduzam automaticamente que tenho confiança cega nelas, que isso, em termos mensuráveis, andará pela volta dos 90%. 
Mas porque surge em contexto tanta e tanta vez e ainda assim tanta sorte de gente deixa perplexa, com respostas diretas como a de cima ou auto-evidentes como porque é que a religião não haveria de me interessar? a ganharem significados nulos, importa deixar registado um conjunto de razões (organizado sem ter em conta nenhuma ordem ou hierarquia) alusivo à pertinência da religião nas tertúlias do quotidiano e na ocupação dos pensamentos. Para que não se torne maçudo, vou por cada parte apresentar uma razão e algumas considerações sobre ela, tentando não me repetir mas ser abrangente de modo a que o leitor se relacione.

Sou um ser humano. Terei, por fim, de usar insistentemente esta noção, pois por mais desnecessária que a uns possa parecer, acaba por ser o corolário pelo qual o interesse é gerado, sou um ser humano e por conseguinte assuntos humanos interessam-me. Usando um pouco da imaginação infantil que às vezes me caracteriza, posso explanar esta ideia de outro ponto de vista: se não fosse humano, se fosse, sei lá, um leão no meio da selva, por ventura não passaria muito tempo a pensar e mais a relaxar, visto serem as leoas, em "famílias" da espécie bem estabelecidas, as responsáveis pelas caçadas. Assim sendo, ocuparia mais a minha mente com a tão ténue representação (ou talvez associação) que o meu nome tinha nos clubes nacionais ou, que isto é próprio dos felinos, se a minha posição dominante não era usurpada no meu grupo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O que aprendemos com... reflexão final

Bem sei que nestes mexericos religiosos não é certamente quem menos preconceituoso se mostrar que leva a sua avante e, ainda que reconhecendo que a minha série O que aprendemos com foi escrita um pouco em tom jocoso e sem grandes preocupações narrativas - não fosse a bíblia um livro multidimensional e baseado no diz-que-disse - há que tirar uma vaga conclusão das quatro histórias que tentei contar.

Caim, Abraão, e são meros personagens de circunstância numa impiedosa fábula que o mundo experiencia. Se por Caim entendermos o José da vila, por Abraão o padre Jacinto, por o católico de domingo e na velhota reformada que assume como bênçãos todas as conquistas dos seus netos conseguirmos vislumbrar vestígios de , estamos não só a encontrar representações com algum grau de fidelidade dos personagens acima referenciados nos elementos constituintes da sociedade portuguesa como também a perceber de que (tão pouco) singelo modo a religião tem influência nas pessoas, assumamos crentes por descarga de consciência. Mas não só estes últimos são visados pela nossa herança religiosa:
Se deus quiser, vai com deus, que deus me acuda, que deus te acompanhe, deus nosso senhor te ajude, 
tudo expressões que a maioria de nós (alguns mais descuidados que outros) utiliza no quotidiano, porque os nossos pais já as usaram à nossa frente, porque acreditamos no efeito daquelas palavras, por aflição de circunstância e, verdade seja dita, porque não pensamos em tudo o que dizemos. E vezes também há quando pensamos mas não intelectualizamos a nossa mensagem, o Fernando bem sabia o que isto é pois nunca caiu nesse erro, pobre coitado, tão louco e tão sóbrio.

Independentemente da ficção ou veracidade de Caim, Abraão, ou , parece-me justo afirmar que a) os temos, enquanto sociedade católica, como modelos a seguir - no caso de e Abraão - e modelos a ter em conta - no caso de Caim e - e b) existe quem se preste a fazer pedagogia sobre os seus exemplos. Mas já que tocamos na ferida, também existem os que c) não conhecem as histórias de tais senhores. Por ventura seriam estes, os desconhecedores, os menos afetados pela moral com que somos empapados, pois ao ignorarem o que vou mencionar a seguir, talvez evitassem questionar que deus é este e que autoridade tem ele para me obrigar a ser filicida. Ainda assim, em jeito de conclusão:

Caim
             deus não aceitou o seu sacríficio, não lhe explicou motivos para tal e fê-lo andar errante pelo mundo.


             deus, sem que nada o justificasse a não ser vontade divina, ordena-lhe que mate o próprio filho, Isaque.


            vê-se envolvido numa contenda entre deus e o diabo, que lhe retira as suas posses e a sua saúde por forma a renunciar à sua fé. Jó não o fez.

        
            é materialista, egoísta e não segue os mandamentos de deus. A sua mulher, ao ver a sua casa em chamas, vira-se para trás e é transformada numa coluna de sal.

Não espero uma reacção em concreto ou particular em relação àquilo que escrevi, apenas posso imaginar um alcance desde o choque até à indiferença. Não obstante, algo para mim é evidente: quem se mete com deus sai tramado.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O que aprendemos com... Ló, parte 4

Tendo concluído um conjunto de reflexões nada mundanas sobre questões filosóficas e religiosas muito pertinentes, nomeadamente as perguntas de Platão (ou de Sócrates, que agora estou confuso) - com direito a incursão pelas primeiras vinte e oito páginas de O Mundo de Sofia - e a reformulação de um dito popular (devem agora dizer aos vossos amigos, só numa de quebrar o gelo, que não se pode agradar a gregos e troikanos), estou finalmente apto para concluir um outro projecto, neste caso o O que aprendemos com..., onde desta feita vamos tentar perceber quem foi Ló e porque é que surge em contexto, relembrando que estou a tentar mostrar porque é que considero que deus usou da fé cega dos seus servos para se aproveitar deles. Se não cumprir o meu propósito pelo menos já devo ser herege, alguns panfletos com o meu nome hão de estar espalhados pelas pentecostais deste Algarve e a minha alma, até ver, não vai ser salva, indo por isso juntar-se a um lote restrito de homens que ousaram questionar deus e agora estão mortos e ao que parece não vão ressuscitar após o dia do julgamento final.


Ló representará, por ventura, a figura de ovelha negra no meio de todos os nomes mencionados nesta série. Descende da linha de Sem, filho que Noé teve aos quinhentos anos (epá!), foi sobrinho de Abraão - que, como vimos, foi o patriarca da fé, homem em quem deus confiava - e, segundo os estudiosos do evangelho, aparece para em conjunto com a sua mulher nos mostrar que o julgamento dele é repentino e não nos podemos apegar às coisas materiais. Até aqui tudo bem, eu consigo perceber que os frutos do espírito sejam de difícil conservação - e no fogo de sodoma são capazes de ter derretido, se é que alguns havia, sei lá, a inocência, a sinceridade, a disponibilidade, a partilha desinteressada - mas não consigo deixar de me questionar porque é que este deus que tão bem quer aos seus servos ou usa para exemplificar o que é que de tão extremo pode acontecer a quem não o temer. Ou, como neste caso em que parece que este homem era materialista, falha o alvo. Que a mulher de Ló tenha desrespeitado uma ordem dada pelo criador e mereça ser punida até é compreensível, agora transformá-la em cloreto de sódio quando naquela altura as verduras estavam sempre bem de sal (porque a moderação é condição essencial de qualquer cristão que se preze) parece-me demasiado. É claro que os julgamentos de deus são inquestionáveis e embora tanto quanto sei a Bíblia não o relate, é bem possível que aquela estátua e o seu conteúdo tenham sido usados para fins pedagógicos além do "isto não deves fazer ou terás esta consequência". Mas verdade seja dita, pelo menos esse fim teve, nós falamos da mulher de Ló por aí e é vê-las a benzerem-se.

A história de Ló constituirá também, ainda que inadvertidamente, o primeiro exemplo de incesto da tão anafada disso História da humanidade, pois segundo relata o bom livro Ló terá copulado (ou sido violado, que isto se fosse hoje visto haver bebida alcoólica à mistura dava um bom caso de tribunal) com as suas filhas para manter a descendência. Um homem já por si não é de ferro e com vinho à mistura mais tenro se torna, culpas imputadas às filhas, que por sua vez se acharão no direito de imputar culpas a outro ser, a satanás, claro está, a origem de todo o mal.

O próximo post será um resumo desta série e surgirá algures no próximo mês, esperançosamente já com O Mundo de Sofia na página sessenta (ou mais).


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O que aprendemos com... Jó, parte 3

Na continuação da série O que aprendemos com, onde já escrevi sobre Caim e Abraão, surge Jó, aquele que é provavelmente o maior exemplo de resiliência da Bíblia e, paradoxalmente, mais um a quem deus - e desta vez nem só ele, que isto vai meter o diabo pelo meio - testa, deixa testar, no fundo brinca, até que limites não se sabe.


Quando na gíria se diz que depois da tempestade vem a bonança, certamente se almejam tempos melhores, melhores condições, uma inversão de circunstâncias. Para Jó nada disto fazia sentido. Eram muitas bonanças e tempestades nem vê-las, ia cuidando imperturbável da sua legião principesca de animais e servia a deus de coração, agradecendo-lhe tudo o que tinha, como lhe competia.

Não se sabe se numa demonstração de mau humor ou porque também queria aparecer - que a permanência exclusiva na ribalta é condição do mal - surge satanás, vindo do nada, em amena cavaqueira com deus, prestes a atentar contra mais um dos seus servos. Deus a impedir que o anjo maldito fizesse Jó tropeçar nas suas múltiplas armadilhas parece à partida, uma intervenção simples, uma consideração a tecer, não fosse este deus capacitado incomensuravelmente, dotado de habilidades sobre-humanas, teria de sê-lo, criou a terra e os céus, criou o homem e a mulher, ajudou a construir tantos impérios, acabou com raças e ainda hoje, tanto quanto se sabe, provoca trovões quando, irado por mais uma derrota, flexiona os músculos depois de mais uma partida com os anjos num dos muitos complexos de bowling dos céus.

Divertido com tamanhas maldades que perpetrava, satisfeito perante o pranto e o sofrimento de Jó, satã ousou fazer deste servo um instrumento das suas frustrações, não aquelas mundanas que nós temos por não termos uma certa nota num teste, mas elevadas a mil, a frustração diabina, capaz de pôr em causa a vida de um irmão. Se bem que é certo que muita gente se vê afetada deste génio e puxa do gatilho, assaltando sem apelo nem agravo a vida de um semelhante, ao contrário do que se verifica neste caso, em que Jó se viu apenas (de um momento para o outro e com a mesma conduta de sempre) sem as suas muitas posses - está bem que não fazia ideia que era um mero adereço numa peça de marionetas que deus e o diabo estavam a encenar, mas isso é um caso à parte, quem é fiel mantém-se fiel e Jó nunca pensou duas vezes sobre a sua fé. Um pouco menos convencida estava sua mulher Sara, que até lhe aconselhou a renunciar à sua fé, provavelmente farta de ver o seu marido sofrer às mãos de tão malvada criatura - perdoe-lhe deus pelo esgotamento e ele certamente o fará porque viu tudo de cima e compreenderá que as mulheres também têm as suas limitações, isto não é ser misógino, foi um e não o outro sexo a ser inventado com recurso ao oposto, mas tudo bem.

Seria certamente útil dissertar sobre que relação têm deus e o diabo além do bem e da sua antítese, mas lá está, todo o herói precisa do seu anti-herói. Imaginar o Harry Potter sem o Lord Voldemort ou os homenzinhos dos sabres de luz sem o Darth Vader até angustia, enfim, contra quem lutam, o que é que ambicionam, qual a calamidade que se vêem iminente e ininterruptamente a impedir? Parece que eu já tinha chegado a uma conclusão a roçar a blasfémia, dá a entender que deus precisa do diabo para nos fazer ver quão pecaminosos somos, mas ao mesmo tempo usa-o para servir de álibi tranquilizador das nossas ações, todos nós sabemos quão mal nos sentimos quando inertes limpamos o salão ou soltamos um pantufinhas e, nesse caso, convém sempre ter um bode expiatório abominável em quem possamos por as culpas de tamanhos sacrilégios, ou não tivéssemos nós sido criados à imagem de um barbudo e não de um cornudo - vá de retro satanás - pelo que está justificada a existência da criatura maligna, não mais toquemos no assunto até ao fim dos tempos, não mencionemos gigantes adamastores nem fadas nem duendes, todos eles frutos da nossa fértil imaginação, há coisas com as quais não vale a pena brincar e, já todos estamos avisados, deus não tem por obrigação revelar tudo, além dos seus caminhos serem inescrutáveis.

domingo, 16 de outubro de 2011

O que aprendemos com... Abraão, parte 2

Dando continuidade à serie O que aprendemos com, onde já escrevi sobre a história de Abel e Caim, vou debruçar-me agora sobre Abraão.

Abraão 

Abraão, marido único de Sara, claro está, que nem mesmo com 175 anos ela o largou - e o mesmo não se pode dizer dele, que foi testando o sémen - "ai que tanto desejo ver nascer o meu rebento!" -em mais parceiras, é-nos dado a conhecer no Antigo Testamento, logo em génesis, no começo dos tempos.
As suas características são notáveis: patriarca da fé, possuidor de extrema paciência - pois quem espera sempre alcança e Sara acabou "por lhe dar" um filho - pai extremoso, enfim, já disse homem de fé inabalável? Pronto, era um excelente servo do deus todo poderoso.
Tudo leva a crer que por isto a relação que Abraão e deus tinham fosse da maior das cordialidades, com lealdade e justiça pelo meio, tudo consolidado pela fé. Ora a fé sem obras morre e se Abraão cumpria diariamente a sua parte - rezas para aqui e para acolá, agradecimentos ao senhor e que vivamos todos em paz - deus deve-se ter sentido na obrigação de recompensar o seu servo. Prometeu-lhe então um filho.


Nos entretantos é possível que Abraão tenha feito muitos puzzles, (ou terá nascido infértil?) isto digo eu sem saber e especulando, até podia ter resolvido algum défice financeiro na região onde morava, pintado a capela sistina, sei lá, qualquer coisa de relevo e que ocupasse tempo, pois o que se sabe com certeza, pois a bíblia assim nos indica, é que ele já era velho quando nasceu Isaque. Bem, velhos são os trapos, já se sabe, mas o que consta é que Abraão já fosse centenário, já teria tido uma vida cheia, e Sara, grávida aos 90, não ficou nem com um sorriso amargo na cara, nem com um esgar de preocupação, nem um franzir de sebrolho que seria de esperar numa situação destas.
Não referi em vão que Abraão era um homem de grande fé, até porque é fácil perceber que o era, pudera, de tantas vezes foi tentado e nunca negou a deus, insaciável, assim era a relação deles, um pedia e o outro dava, e em troca era abençoado. Poupo-vos dos detalhes das primeiras provas de fé, quando deus obrigou Abraão a separar-se de membros da família e amigos queridos, pois estes, também provas superadas, foram apenas ilustres desconhecidos face a Isaque, filho unigénito e primogénito de Abraão, tal como Jesus, possível forma de compensação de deus, arrependido com o que fez a Abraão.


Ora, curto e conciso como não pretendo nem se pode ser nestes assuntos da bíblia com a exegese e tudo mais, em génesis 22 surge mais uma prova para Abraão superar: "mata o teu próprio filho." Matar o próprio filho é coisa que à partida, com mais ou menos fé, qualquer um de nós faz por deus, ainda por cima se conferenciamos com ele diretamente e ele nos dá ordens, ao mesmo tempo que ordena o solo para produzir mais ou menos, e seria nesses moldes que Abraão deve ter agido, uma promessa por outra. Aqui até se pode comparar com a banca e os empréstimos que fazemos, nós os Abraãos da vida e os juros as nossas provas de fé. Lá que hoje nos pareça estranho é outro assunto, mas é bem possível que os capitalistas do mundo tenham aprendido mais uma lição de justiça retributiva - ou coisa que o valha - com deus, porque se naquela altura queríamos sustento hoje queremos casas com piscina e telemóveis que tirem fotografias e isso tem de levar uma adaptação (ou punição), neste caso, uma hipoteca ou um qualquer contrato que nos obrigue a um pagamento até ao final das nossas vidas. Não serão 175 anos, mas só porque hoje já não vivemos tanto tempo, já tão longe da perfeição dos primeiros criados e por conseguinte, só durante 30 ou 40 anos é que nos vemos na obrigação de servir de Abraão neste - mais um - capítulo de justiça retributiva.


Para finalizar, que o leitor já deve ter a vista cansada, é sempre bom ressalvar que Isaque não foi morto, foi salvo por anjinhos antes de sentir o calor da madeira a arder, tal é o timing de deus nestas provações e portanto, prova superada, deus e Abraão continuam amigos, agora com confiança revigorada perante o derradeiro dos sacrifícios.

Mas que dizer de Jó? Até que ponto deus permitiu que este seu servo sofresse? No próximo artigo tentarei contar a sua história, sem grandes evidências históricas, claro está, que não sou nenhum teólogo nem padre, embora muito inveje o Padre Carreira das Neves que, em mais um capítulo da sua amizade com Saramago, pôde debater com ele estas e outras questões, em direto para a televisão nacional, com direito a toque polifónico e tudo.

O que aprendemos com... Caim, parte 1

O que têem Jó, Ló, Abraão e Caim em comum? Pode parecer esquisito, a comparação é certamente inusitada, mas todos os personagens bíblicos acima mencionados foram vítimas de deus. 
Pois claro, meros servos de quem deus fez gato sapato, vulgos transmissores da invencível moral divina, usados de variadas formas para que, em nome dele - amém - e do seu propósito - que se cumpra a sua vontade hoje e sempre -, todos os pecaminosos humanos que gozam da sua benignidade imerecida aprendessem com os seus exemplos.

Caim

Génesis conta, além da fantástica história de como todos fomos postos neste mundo, começando por adão e o resultado duma orquestral experiência com uma das suas costelas, eva, o relato de dois irmãos antagónicos, o campo e a cidade daqueles tempos, o pastor e o agricultor. O pastor, Abel, e o lavrador do solo, Caim, eram ambos tementes a deus, crentes na sua justiça e, tanto quanto o capítulo quarto de génesis conta, zelosos na sua fé. Tanto que, em mais um ato de adoração ao único deus existente, aquele que "exige devoção única e exclusiva" - por ser ciumento, claro está, que deus não pretende que adulemos falsos profetas - resolveram fazer um sacrifício. Abel, por ser pastor de ovelhas, deduz-se que tenha sido dessa espécie onde foi buscar "pedaços gordos do seu rebanho". Já Caim, plantador não de naus a haver mas de legumes por cozinhar, (alface, batata, grão, pepino, feijão, pimentos, aipo, cogumelos, tomate, lentilhas - para mais informações ver este sketch dos Gato Fedorento) deve, segundo consta, ter presenteado deus com os frutos que cultivava no solo, dos quais também dependia para sobreviver. Estranhamente, deus não vê as duas ofertas do mesmo modo, pois não obstante aceitar a de Abel, já a de Caim lhe parece mal. Parecer mal acaba por ser uma invenção minha que vem a propósito, pois tanto quanto sei não se discriminam as razões pelas quais deus tenha aceite uma e não a outra oferenda. Estariam as leguminosas a apodrecer? Estaria deus farto de comer vegetais? Ou o fumo das ovelhas cheirava melhor? O que é certo é que a partir desta contenda se desenrola o primeiro assassinato alguma vez cometido e, como ele fará questão de nos lembrar de ora em diante, a omnipresença de deus nas disputas humanas. Caim ousou assassinar o seu próprio irmão, cego pela raiva e pela inveja, ao passo que deus lhe incutiu estes sentimentos por ter preterido o seu sacrifício e sem dar satisfações, ter traído a sua confiança, ele que é o deus amoroso, da paz, da justiça, da misericórdia e da brandura, deixando o pobre caim à beira de um ataque de nervos por causa de uma pinta na testa que muitas conversas de circunstância ia iniciando com os transeuntes. Está bem que era bom estar protegido da morte, - quem o matasse haveria de morrer 7 vezes e isso é coisa que nem os gatos queriam arriscar - mas por outro lado aquilo era um incómodo porque as pessoas - já nesse tempo, que isto já vem de longe - comentam e matutam e aquela pinta nem com sabonete se via limpa.


Aborrece escrever mais, isto continua.
Enquanto isso leiam o capítulo 4 de génesis. Hebreus 4:4 também refere esta história. Ou melhor, durante Hebreus todo vão encontrar referências.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Propósito do blog

Boa noite, 
É agora 10 de Outubro de 2011. Era de esperar que a maioria da população mundial não acreditasse em fantasmas, nem em unicórnios, nem em duendes mágicos. Na mesma linha de pensamento, só seria coerente que a existência de Deus ou de divindades de qualquer espécie também estivesse desacreditada, nas ruas da amargura. Mas não é isso que acontece. Diariamente, imensas pessoas são endoutrinadas em seitas ou mesmo nas religiões de massas, outras clamam milagres e ainda há que as que dizem ter uma relação especial com Deus.
Mas que Deus? Mas que canal de comunicação exclusivo? Que intempérie foi evitada? 
Admito desde já: sou um assíduo leitor da Bíblia. Acho-a uma excelente obra de ficção! Tem todos os elementos de uma novela da TVI: suspense, carnificina, misoginia, apelos à emoção, discriminação, mulheres tomadas como espólio de guerra, de um conjunto bestial de características que qualquer mãe ou pai extremoso quereria proteger os seus rebentos de conhecer.
Não sou paternalista ao ponto de querer com este blog aconselhar as pessoas a acreditar no que quer que seja, apenas vou ser presunçoso ao ponto de explicar porque é que, a meu ver, a crença em Deus é tão irracional e anacrónica quanto a crença em bruxas ou no estabelecimento da paz na faixa de Gaza (eish que esta veio mesmo a calhar). Nalgumas matérias parece que ficámos na Idade Média.