domingo, 16 de outubro de 2011

O que aprendemos com... Abraão, parte 2

Dando continuidade à serie O que aprendemos com, onde já escrevi sobre a história de Abel e Caim, vou debruçar-me agora sobre Abraão.

Abraão 

Abraão, marido único de Sara, claro está, que nem mesmo com 175 anos ela o largou - e o mesmo não se pode dizer dele, que foi testando o sémen - "ai que tanto desejo ver nascer o meu rebento!" -em mais parceiras, é-nos dado a conhecer no Antigo Testamento, logo em génesis, no começo dos tempos.
As suas características são notáveis: patriarca da fé, possuidor de extrema paciência - pois quem espera sempre alcança e Sara acabou "por lhe dar" um filho - pai extremoso, enfim, já disse homem de fé inabalável? Pronto, era um excelente servo do deus todo poderoso.
Tudo leva a crer que por isto a relação que Abraão e deus tinham fosse da maior das cordialidades, com lealdade e justiça pelo meio, tudo consolidado pela fé. Ora a fé sem obras morre e se Abraão cumpria diariamente a sua parte - rezas para aqui e para acolá, agradecimentos ao senhor e que vivamos todos em paz - deus deve-se ter sentido na obrigação de recompensar o seu servo. Prometeu-lhe então um filho.


Nos entretantos é possível que Abraão tenha feito muitos puzzles, (ou terá nascido infértil?) isto digo eu sem saber e especulando, até podia ter resolvido algum défice financeiro na região onde morava, pintado a capela sistina, sei lá, qualquer coisa de relevo e que ocupasse tempo, pois o que se sabe com certeza, pois a bíblia assim nos indica, é que ele já era velho quando nasceu Isaque. Bem, velhos são os trapos, já se sabe, mas o que consta é que Abraão já fosse centenário, já teria tido uma vida cheia, e Sara, grávida aos 90, não ficou nem com um sorriso amargo na cara, nem com um esgar de preocupação, nem um franzir de sebrolho que seria de esperar numa situação destas.
Não referi em vão que Abraão era um homem de grande fé, até porque é fácil perceber que o era, pudera, de tantas vezes foi tentado e nunca negou a deus, insaciável, assim era a relação deles, um pedia e o outro dava, e em troca era abençoado. Poupo-vos dos detalhes das primeiras provas de fé, quando deus obrigou Abraão a separar-se de membros da família e amigos queridos, pois estes, também provas superadas, foram apenas ilustres desconhecidos face a Isaque, filho unigénito e primogénito de Abraão, tal como Jesus, possível forma de compensação de deus, arrependido com o que fez a Abraão.


Ora, curto e conciso como não pretendo nem se pode ser nestes assuntos da bíblia com a exegese e tudo mais, em génesis 22 surge mais uma prova para Abraão superar: "mata o teu próprio filho." Matar o próprio filho é coisa que à partida, com mais ou menos fé, qualquer um de nós faz por deus, ainda por cima se conferenciamos com ele diretamente e ele nos dá ordens, ao mesmo tempo que ordena o solo para produzir mais ou menos, e seria nesses moldes que Abraão deve ter agido, uma promessa por outra. Aqui até se pode comparar com a banca e os empréstimos que fazemos, nós os Abraãos da vida e os juros as nossas provas de fé. Lá que hoje nos pareça estranho é outro assunto, mas é bem possível que os capitalistas do mundo tenham aprendido mais uma lição de justiça retributiva - ou coisa que o valha - com deus, porque se naquela altura queríamos sustento hoje queremos casas com piscina e telemóveis que tirem fotografias e isso tem de levar uma adaptação (ou punição), neste caso, uma hipoteca ou um qualquer contrato que nos obrigue a um pagamento até ao final das nossas vidas. Não serão 175 anos, mas só porque hoje já não vivemos tanto tempo, já tão longe da perfeição dos primeiros criados e por conseguinte, só durante 30 ou 40 anos é que nos vemos na obrigação de servir de Abraão neste - mais um - capítulo de justiça retributiva.


Para finalizar, que o leitor já deve ter a vista cansada, é sempre bom ressalvar que Isaque não foi morto, foi salvo por anjinhos antes de sentir o calor da madeira a arder, tal é o timing de deus nestas provações e portanto, prova superada, deus e Abraão continuam amigos, agora com confiança revigorada perante o derradeiro dos sacrifícios.

Mas que dizer de Jó? Até que ponto deus permitiu que este seu servo sofresse? No próximo artigo tentarei contar a sua história, sem grandes evidências históricas, claro está, que não sou nenhum teólogo nem padre, embora muito inveje o Padre Carreira das Neves que, em mais um capítulo da sua amizade com Saramago, pôde debater com ele estas e outras questões, em direto para a televisão nacional, com direito a toque polifónico e tudo.

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