domingo, 20 de maio de 2012

Jesus encontrou-o, já com o futuro delineado como só a quem de poder convém, imponente a voz e fino no trato, dizendo Tu és o escolhido, a este cargo não podes renunciar, pois se a ti te te escolhi por mero acaso não foi, Mas, pai, para que fui escolhido, que função heroica me delegas, Para seres meu mensageiro. Se doze apóstolos não bastavam, se falharam no propósito, só criatura imaculada salvaria esta amálgama pecaminosa que em nós se forma, justos e injustos, todos à mercê da sua hipotética benevolência, por fim honrados por por nós serem feitos tantos esforços.

E apartando-se daquele lugar sem despedidas nem uma simples mostra de gratidão És o Soberano e por isso te agradeço, apenas um aperto de fundo no peito que periclitantemente batia, tic tac prestes a explodir, analisava perplexo a caixa de pandora que seu Pai tinha aberto, messiânico resgate, messianismo salvador, o meu sangue pelo vosso. Não caberá ao narrador - figura ausente de tais conversas obscenas - fazer quaisquer comentários redundantes sobre as consequências do precedente aberto, ficando apenas registados alguns títulos póstumos em homenagem a alguns que a Jesus seguiram, de um ponto de vista meramente biológico, que os caminhos do céu não tocam a todos: regicida, revolucionário, herói, terrorista, suicida. Só que estes, hoje escrutinados pelo eterno diferenciador ocidente vs oriente, fazem honras de capa de publicações numerosas por esse globo fora, enquanto que o sacrifício do outro perdurou no imaginário das gerações sem que tais documentos, menos ou mais datados, tenham até hoje visto a luz do dia, salvo certa compilação mais traduzida que uma aventura de um cavalo mais o seu dono e o nível disparatado de peripécias que se proporcionaram.

Exasperado nos rumos complexos que a sua vida podia tomar, tentava arrumar as ideias enquanto se preparava para a derradeira obra que havia de assinar, como profeta Jesus não certamente - que os assuntos de deus exigem um certo requinte - mas sim como Jesus Cristo redentor, O Único Salvador da Humanidade, Unigénito e Primogénito, Aquele que te Ama, enfim, um sem número de credencias atestadas pelo divino e testemunhados pelos presentes livrescos, uma espécie de personagem de uma realidade fictícia consagrada no livro sagrado mas não menos necessários que os milagres, esse cunho houdinesco a que a religião, mais ou menos falsa, se presta a divulgar.

7 comentários:

  1. Boa tarde!

    Contas uma bela história!
    O que mais me intriga é facto de existirem pessoas como tu que perdem tempo em esmiuçar aquilo em que outros acreditam...
    Visto que vivemos num país aparentemente livre, tens todo o direito de comentar o que quiseres ou até mesmo criar um blog como este! E vice versa... Mas não será um desperdício de tempo? O país precisa de ações não de críticos a crenças de outros... Sim temas bastantes batidos (Religião, Política, Desporto e blá blá blá...)
    Podes não acreditar na Bíblia, mas criar um blog a criticar o que nela contém é típico. (Muitos até ficam famosos por isso. Que é algo que não percebo uns ficam ricos com a religião, outros por criticá-la, bastante justo).
    Se eu for contra o teu blog e não concordar com o que escreves então vou criar um blog e escrever o quanto estou em desacordo contigo (mas que lógica da batata isto).
    Afinal de contas qual o propósito do teu blog? Expôr as tuas ideias em relação a algo que não acreditas? Porque o que mais vejo por aí são críticos com a mania que são diferentes ou até superiores a outros.
    És um bom escritor, não duvido disso, mas na minha opinião devias usar os teus dotes de escrita para algo aproveitável.
    Mesmo assim respeito a tua opinião como respeito qualquer outro que não pense da mesma forma que eu, pois a civilização baseia-se nisso.

    Continuação de boas escrituras,
    Cumprimentos

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    1. Boa tarde e obrigado pelo tempo dispensado em leres o que escrevi.
      Li atentamente o que escreveste e de súbito veio-me à cabeça esta passagem do Evangelho Segundo Jesus Cristo: "Nem eu posso fazer-te todas as perguntas, nem tu podes dar-me todas as respostas", pelo que entretanto escrevo. Em relação ao blog putativo fá-lo, terás a minha atenção e estudo se escreveres algo interessante.
      Um abraço.

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    2. Não tens de quê, apenas quis deixar a minha apreciação quanto ao que escreveste, não sei se me fiz entender mas o que queria transmitir é que por vezes perdemos demasiado tempo com conteúdos desnecessários e esquecemos do que realmente importa. Família, Amigos,pessoas de quem gostamos, se por acidente ou imprevisto perdemos alguém desse círculo de relações o que menos vai importar é se essa pessoa era desta ou daquela religião ou quais eram as suas crenças. Mas como já referi respeito a tua opinião, e não, não criaria um blog putativo pois assim estaria a contradizer-me, apenas expressei a minha opinião pois gosto de trocar ideias. Se por ventura fizesse um blog a criticar algo não seria sobre religião, contaria a história maravilhosa em que estamos enlaçados como principais contribuintes mas tratados como lixo. Falava da miséria acrescida que enfrentamos enquanto que uns fulanos dão uns "toques" na bola e gastam 33 mil euros por dia para o Euro 2012, em plena "crise". Sem dúvida teria bastante conteúdo para criticar!

      Cumps

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  2. Incentivo-te a fazê-lo, faz falta opinião crítica. Só uma correção ao que disseste: a religião contribui para as relações familiares de tal modo que conheço pelo menos um caso em que por divergência no credo um sobrinho não compareceu no funeral do seu tio. E são estas intromissões que passam pelos pingos da chuva, são estas demissões de consciência que me interessam compreender. Mas adiante.

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  3. Não discordo, mas uma coisa é criticar a religião outra bem diferente é criticar as pessoas que a usam indevidamente.
    É de facto repugnante observar tais atitudes!
    Já agora tenho curiosidade em saber a tua opinião, se a religião fosse exterminada achas que seria a solução da maioria dos problemas?

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  4. Estou a meio de um trabalho e por isso sem o tempo para formular uma nova resposta. Como alternativa, fica aquilo que respondi há já uns meses, mais ou menos com a mesma temática subjacente:

    "À partida, uma conjuntura mais secular possibilitaria uma solução diplomática mais imediata no conflito israelo-palestiniano, por exemplo. Se quisermos ir ainda mais longe, a história e a religião são hoje barreiras fulcrais ao estabelecimento da paz, visto que não se dá o braço a torcer e se fica com medo de repercussões no pós-vida, se é que me faço entender.

    O conceito de herói + anti-herói que trago à baila na narração do episódio de Jó é algo à margem da sua própria história, sendo na verdade apenas um olhar mais descontraído sobre o pânico real com que algumas pessoas vivem o que desconhecem ou não compreendem, nomeadamente os fantasmas, a magia negras e o diabo a quatro.

    No fundo, acaba por ser como disseste, o respeito mútuo é fundamental quando se lida com assuntos tão sensíveis e embora eu assuma que a minha escrita pode ser provocatória eu não sou de todo um provocador gratuito, pelo que a subtileza na forma como escondo o que quero realmente dizer talvez me ilibe. Ou me condene mais, que não sou ninguém para definir a minha própria penitência."

    Toma isto como um ponto de partida, pois como referi, isso já foi escrito há alguns meses e se fosse hoje abordaria a questão com outras palavras. Fica no entanto a ideia para um post como resposta a essa questão. Ainda assim, sei que sou incapaz de dissecar o assunto, sequer arranjar uma resposta conclusiva e coerente.Um gajo tenta.

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    1. Antes de mais obrigada por responderes,
      Não era necessário tanto, o ponto que queria chegar era este: "sou incapaz de dissecar o assunto, sequer arranjar uma resposta conclusiva e coerente."
      Indubitavelmente queremos todos uma reposta, e a procuramos de diversas maneiras, ou não.
      Sendo assim não tenho mais questões para colocar.
      Mas continua com a escrita...

      Cumps

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