sexta-feira, 18 de maio de 2012

"-Deus, Deus, Deus" - gritava o homem desamparado.
Tinham morto o seu gado, 100 cabeças, e a raiva tomou conta dele. Ato contínuo, toma nas mãos um cordeirinho, a carne a arrefecer, e faz escapar por entre os dedos uns fios de sangue, que à medida que escorre alimenta a terra e a pinta de uma nova cor. É o sacrifício do sacrifício.

De lá de cima troveja um relâmpago misericordioso que em nada acerta, exceto num carvalho que se vê privado de alguns ramos, outrora o vigor da mãe natureza e agora cinzentas cinzas e madeira esturricada. Os raios que iluminam os céus indiciam a ira de deus, que se julga estar a preparar reação ao ato do pastor. Não se sabe se é o eufemismo do gesto que o irrita, ninguém arrisca a dizer se é pela manifestação intempestiva do homem, (mas) o que é certo é que não há tempo, pois os portões do paraíso estão a abrir de "par em par". E de lá sai deus, angustiado, a proclamar:
-Vós que a mim não são fiéis preparem as vossas trouxas! O inferno guarda-vos uma cama sem descanso, feita de fogo, enxofre e desespero!

E o pastor ouvia aquilo com o coração inclinado para o arrependimento, apercebido de quão pequeno foi o seu gesto na grandeza do senhor. E fez soar um pranto que chegou ao monte Sião e ressoou pela Terra.
Tinha acabado de chegar o grito pelo mensageiro celestial e um querubim levou-o ao senhor. Com grande espanto este ouvia aquelas palavras, cuja intensidade era maior que as primeiras proferidas pelo pastor.
De um anjo fez Pégaso e a criatura trouxe a si o homem lavado em lágrimas. Assertivamente e em poucas palavras fez-lhe conhecer o seu destino: tinha-se sacrificado a si quanto sacrificou o cordeiro, parcela residual de uma cadeia de louvores.

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