Jesus encontrou-o, já com o futuro delineado como só a quem de poder convém, imponente a voz e fino no trato, dizendo Tu és o escolhido, a este cargo não podes renunciar, pois se a ti te te escolhi por mero acaso não foi, Mas, pai, para que fui escolhido, que função heroica me delegas, Para seres meu mensageiro. Se doze apóstolos não bastavam, se falharam no propósito, só criatura imaculada salvaria esta amálgama pecaminosa que em nós se forma, justos e injustos, todos à mercê da sua hipotética benevolência, por fim honrados por por nós serem feitos tantos esforços.
E apartando-se daquele lugar sem despedidas nem uma simples mostra de gratidão És o Soberano e por isso te agradeço, apenas um aperto de fundo no peito que periclitantemente batia, tic tac prestes a explodir, analisava perplexo a caixa de pandora que seu Pai tinha aberto, messiânico resgate, messianismo salvador, o meu sangue pelo vosso. Não caberá ao narrador - figura ausente de tais conversas obscenas - fazer quaisquer comentários redundantes sobre as consequências do precedente aberto, ficando apenas registados alguns títulos póstumos em homenagem a alguns que a Jesus seguiram, de um ponto de vista meramente biológico, que os caminhos do céu não tocam a todos: regicida, revolucionário, herói, terrorista, suicida. Só que estes, hoje escrutinados pelo eterno diferenciador ocidente vs oriente, fazem honras de capa de publicações numerosas por esse globo fora, enquanto que o sacrifício do outro perdurou no imaginário das gerações sem que tais documentos, menos ou mais datados, tenham até hoje visto a luz do dia, salvo certa compilação mais traduzida que uma aventura de um cavalo mais o seu dono e o nível disparatado de peripécias que se proporcionaram.
Exasperado nos rumos complexos que a sua vida podia tomar, tentava arrumar as ideias enquanto se preparava para a derradeira obra que havia de assinar, como profeta Jesus não certamente - que os assuntos de deus exigem um certo requinte - mas sim como Jesus Cristo redentor, O Único Salvador da Humanidade, Unigénito e Primogénito, Aquele que te Ama, enfim, um sem número de credencias atestadas pelo divino e testemunhados pelos presentes livrescos, uma espécie de personagem de uma realidade fictícia consagrada no livro sagrado mas não menos necessários que os milagres, esse cunho houdinesco a que a religião, mais ou menos falsa, se presta a divulgar.